Quem participa do nosso blog com o post de hoje é Paulo Beto, o anvil FX.
Em
agosto de 1978 ganhei meu primeiro LP, era presente de aniversário.
Eu
mesmo fui as lojas tentar encontrar o disco Radioactivity do
Kraftwerk, mas acabei encontrando só o Autobahn.
Nessa
busca, acabei tendo contato com vários outros discos que me
pareceram muito sedutores, mas a grana que eu tinha só dava pra
comprar um.
Ao
levar pra casa, percebi que eu teria que ter um certo cuidado com o
objeto.
Não
amassar a capa, e me disseram que o sol muito forte poderia estragar.
Ao
chegar, o disco foi guardado ainda embalado, para que eu pudesse
abrir o presente na hora certa na festa do meu aniversário de 12
anos.
Nesse
mesmo ano eu ganhei outro presente muito bacana, um Cinemin, que era
nada mais que um projetor de slides com temas da Disney. Foi criado
especialmente pra projetar tiras de historinhas envolvendo Mickey,
Pateta e etc...
Durante
a festa, a curtição foi brincar de sessão de cinema no escuro
ouvindo o LP do Kraftwerk na vitrola.
Como
eu era um menino fuçador, comecei a interferir na rotação do disco
descobrindo assim mais uma brincadeira.
Nessa,
descobri que a musica Kometenmelodie parte 1 era a mesma de
Kometenmelodie parte 2 com a rotação desacelerada.
Como
estávamos no escuro, aqueles sons malucos e instigantes eram quase
assustadores.
Para
mim, hoje em dia, fica muito claro ao lembrar desses momentos de
minha infância, como iniciaram várias paixões que estariam comigo
até hoje:
Minha
paixão pela Música Eletrônica;
Minha
paixão pela relação entre música e imagem;
E
minha paixão por colecionar discos, principalmente vinis.
Aos
vinte anos eu tinha uma boa pilha de vinis, e só gostava de curtir
sons mais sofisticados pra época, como rock progressivo e música
eletrônica de artistas como Vangelis, Jean- Michel Jarré, Automat e
Rick Wakeman, que tinha um LP de capa dupla que mostrava o nome dos
sintetizadores indicados numa grande foto. Aquilo foi uma escola para
mim.
A
palavra Moog já era muito respeitada no meu repertório.
À
partir daí, meu conhecimento deu uma grande reviravolta com dois
acontecimentos.
Primeiro
conheci o músico e compositor Paulo Motta, ele me mostrou que a
música eletrônica ia muito mais além em sua origem no universo
erudito das escolas Francesas e Alemãs.
O
que eu conhecia até então, era a ponta de um iceberg mercadológico.
Em
segundo lugar, conheci o grande colecionador de discos Roberto
Barbosa.
Me
mostrou em sua casa e nos programas de rádio que fazia, que o
planeta terra inteiro era forrado de música de excelente qualidade e
sofisticação, não apenas onde a imprensa queria que eu me focasse.
Que
os estilos musicais eram muito mais amplos do que eu poderia
imaginar.
Que
haviam muito mais artistas geniais além da meia dúzia que eu tinha
aprendido a venerar.
Sua
coleção alcançava a marca de uns 9000 discos de vinil escolhidos à
dedo que ele importava direto dos selos e chegavam semanalmente em
caixas para ele.
Tive
contato com obras maravilhosas de artistas que não queriam ser pop
stars, mas artistas em sua essencia.
Descobri
a " Música como Obra de Arte".
Nomes
como Faust, Fred Frith, Chris Cutler, Henry Cow, Magma, Recommended
Records, Formula 3, Le Orme, Plastic People of Universe, Can,
Grobschnitt, Tangerine Dream, Pere Ubu, descortinaram muitos outros
sucessivamente.
Esses
acontecimentos, contatos pessoais e artísticos é que são a origem
de minha paixão pela música eletrônica e por colecionar discos no
suporte vinil.
Não
é de longe saudosismo!
Embora
os cds tenham mais capacidade de armazenar informação e geram uma
reprodução sonora mais completa no espectro de frequências e
apesar da limpeza de ruídos que não faz parte da música, eu sinto
o vinil como uma experiência muito mais fascinante de se relacionar
com a música.
Primeiro
que vinil você não faz em casa, logo, você precisa comprar ou
ganhar para ter.
Ter
um vinil é ter uma cópia de uma obra de arte finita no mundo.
Existe
tiragem e edição.
Além
de ser um objeto degradável muito mais sensível.
Requer
muito mais cuidado.
São
como pérolas!
Dependendo
do LP é um verdadeiro tesouro, uma mensagem numa garrafa que um dia
aparece no mar de sua vida.
Muita
música boa atual é lançada e muita realmente cult é relançada.
Esse
tipo de LP vc pode encontrar em lojas.
Mas
existem aqueles outros milhões, que ainda poucos, conhecem e que
nunca foram relançados, ou as versões originais das pérolas que
todos procuram.
Já
esses te dão uma felicidade extra em ter e achar.
Os
desse nível classe AA, são ainda mais fascinantes quando são
encontrados em estado perfeito.
O
melhor lugar no mundo para encontrar esse tipo de disco é no Japão.
Felizmente
sou amigo do vendedor e pesquisador de discos mais incrível que já
tive notícia, o Mestre Yupo.
Seu
apelido de "Mestre" não é por acaso. Ele realmente
entende e conhece uma quantidade gigantesca de música de qualidade
em diversos estilos.
Ele
viaja freqüentemente para Tokio em busca de tesouros sonoros.
Graças
à ele, meu repertório aumenta a cada dia, e minha coleção também.
Você
pode cruzar com ele nas feiras de vinil que acontecem em São Paulo.
Outra
experiência gostosa é discotecar com vinis.
Um
DJ que usa Bolachas para mostrar seu repertório não apenas mostra o
que ele conhece, mas a sorte que ele teve, ou a pesquisa que ele faz.
Demonstra
alguém que batalha e investe pra ter um repertório, e não apenas
colhe aquilo de graça na internet.
Por
esses motivos e por muitos outros ainda, que eu, como artista do som,
a partir de agora darei prioridade em lançar o meu trabalho em LPs.
Por
uma questão financeira serão tiragens pequenas, mas quem sabe um
dia eles não serão pérolas para alguém?
Paulo Beto
Dois sets de Paulo Beto só tocando LPs:
A YB music tem uma série de vinis lançados. Recém lançado Leo Cavalcanti, Bruno Moraes, Curumim, Clube do Balanço, Tulipa Ruiz e Rodrigo Campos.