segunda-feira, 26 de outubro de 2009

íntegra da entrevista para a folha de são paulo: música e imagem

Ilustrada no Pop - A YB começou apenas como gravadora, não?
Mauricio Tagliari - Desde o princípio, tivemos a preocupação de trabalhar com músicas em mais de um setor. No início, começamos com música para publicidade. Depois, passamos a entrar no mercado de gravadoras e de música para cinema. Produzimos, por exemplo, o primeiro disco do Otto. Na época, fechamos com a Trama para fazer o lançamento, mas o disco nasceu na YB. Depois decidimos criar o selo, porque não faria sentido produzir e depois vender para uma gravadora. Então ficamos também com o conteúdo musical. Demos uma sorte porque os primeiros cinco discos que lançamos foram licenciados para sair na Europa, nos EUA, então já nascemos com um canal de escoamento internacional.

Ilustrada no Pop - Lançar discos ainda dá dinheiro?
Tagliari - Não, definitivamente, não. Me perguntaram outro dia se o CD morreu. Acho que ainda não, porque o CD funciona como uma espécie de síntese para o artista, é importante para o artista. A Folha dificilmente vai falar de um artista se ele não tiver um CD. O disco é importante para o artista e para a mídia. Para nós, não é mais negócio. O meu foco é sincronização.

Ilustrada no Pop - O que é sincronização?
Tagliari - É música para imagem. Música para cinema, para internet, publicidade. Temos uma produção de qualidde para oferecer a diretores de cinema, agências. Vale mais a pena licenciar uma música para cinema do que verder CDs. O dinheiro que entra para mim e para o artista com a sincronização de uma música, em média equivale a vender 10 mil
CDs. Se o CD custa R$ 25 na loja, cerca de R$ 1 vai para o artista e R$ 1 ou R$ 2 para a gravadora. Se eu vender mil CDs, vou ganhar R$ 1.500. Eu consigo licenciar uma faixa para um filme por R$ 10 mil, o equivalente a vender 10 mil discos. [Se a música for licenciada para publicidade, o valor sobe para até R$ 50 mil; valores referentes a artistas médios.]

Ilustrada no Pop - Com isso a música não corre o risco de virar apenas um apêndice da publicidade?
Tagliari - Não, porque nenhum artista da gravadora está fazendo música pensando em sincronização. Eu é que busco o negócio para eles. Não quero que o artista pense em comercial, em propaganda. Quero que o artista faça a música dele e aí eu tento cavar o terreno para encaixar a música na sincronização. Nem sempre é possível. Fora do Brasil, isso está mais adiantado. O Curumin, por exemplo, entrou em mais de quatro comerciais diferentes.

Ilustrada no Pop - Essa estratégia será universal?
Tagliari - Nós buscamos formas de fazer dinheiro com o tipo de música que gostamos. Vai haver uma reversão no mercado. Na hora em que houver um consenso entre gravadoras, editoras, operadoras de internet, vai surgir um modelo que facilitará o mercado da música e o pagamento de direitos. Você talvez pague uma quantia mensal para baixar música de boa qualidade. No Brasil, ainda não há uma plataforma amigável para baixar música de forma legal.

Ilustrada no Pop - Como sobreviver à pirataria física e digital?
Tagliari - Temos que ficar com a cabeça fora d'água e produzir música de qualidade. A sobrevivência financeira vem com parcerias feitas com os músicos. Não há mais uma relação como a que havia entre gravadora e artista. Há uma parceria igualitária. Não tenho obrigações financeiras com o artista e ele não tem obrigação de me fornecer música. Temos um projeto hoje em que o artista grava duas faixas ao vivo e registramos em vídeo. A ideia é lançar cinco artistas de uma vez. Vamos lançar os vídeos na internet, de forma gratuita.

por Thiago Ney

http://ilustradanopop.folha.blog.uol.com.br/

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