segunda-feira, 16 de março de 2009
Papos pela YB: Cláudio Torres
Nas últimas semanas, Cláudio Torres tem circulado pelos estúdios da YB. O motivo: a trilha do seu novo longa, A Mulher Invisível. Aproveitei uma pausa pro café pra trocar dois dedos de prosa com ele e saber mais sobre o filme, a trilha e sons que ele curte. Vai lendo.
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Como está o filme?
Já está pronto, em fase de finalização, fazendo imagem e som ao mesmo tempo. Vai ser lançado dia 5 de junho, mas já devemos ter uma cópia 13 de abril, quando a gente começa a fazer cabines.
E como foi o processo de fazer a trilha?
A gente é parceiro há muitos anos, eu e o pessoal aqui na YB: a gente fez a trilha do Redentor, depois A Mulher do Meu Amigo. Então tem um jeito de trabalhar que já é conhecido mutuamente. Eu uso um som de referência, com alguns hits, pra mais ou menos ambientar, saber se é pra rir, chorar, se emocionar. Depois a gente adapta alguns hits pros hits originais daqui. Junta essa formação clássica que o Luca tem com um conhecimento de música contemporânea muito grande que o Mauricio carrega.
Tem muita música na trilha?
Tem, eu uso muita música nos filmes. Engraçado que é uma relação contrária, né? Geralmente o cara que tá fazendo o filme pede menos música e o cara que tá fazendo a trilha quer botar. Aqui o pessoal é que fica, "tem que ter pelo menos 5 segundos de silêncio!" (risos) Pra mim o silêncio é tão barulhento quando a música. Nas cenas que realmente não têm trilha, eu gosto do silêncio.
E a trilha está ficando com a cara do filme?
O filme é sobre esse cara, que é chutado pela mulher e passa três meses sozinho no apartamento, até que um dia bate na porta a Luana Piovani, que entra, cuida dele, arruma a casa, não tem ciúmes, é uma loucura na cama, é perfeita. Só que ele não consegue apresentar ela pra ninguém. São situações de um cara que enlouquece, tem essa coisa do fantástico, dela existir ou não existir. Então, como o filme é comédia e é romântico e também é estranhão, a música ajuda a dar o tom, construir o clima de cada cena.
Música também faz parte do cinema...
Eu gosto muito de cinema que tem música. Eu sou de uma escola super convencional: gosto de cinema americano, de filme pipoca, e esses filmes te pegam pela música e não te largam, né? Hitchcock, Scorsese, gente que bota trilha mesmo. Socrsese compra uns musicão, cola um na outro, bota a cena embaixo e a pessoa vai pela emoção da música e pela cena. Eu gosto desse tipo de filme, então quando vai fazer sai meio assim.
Esse negócio de ter muita música é reflexo do seu interesse, você ouve muita música?
Eu ouço bastante música, mas eu parei - acho que o último disco que eu comprei foi em 78. Meu gosto musical não faz o menor sucesso hoje em dia. (risos) Tô de sacanagem, eu ouço de tudo. Mas basicamente rock'n'roll.
O que você tem ouvido no iPod?
Outro dia eu estava fazendo uma pesquisa pra uma trilha e descobri que não tinha Guns n' Roses no iPod nem no computador nem em canto nenhum, aí eu baixei o Use Your Illusion II. (risos) Estou há uns três dias ouvindo o Axel Rose cantar na minha orelha.
Isso é bom ou ruim?
É bom, cara. (risos) Recentemente votei a ouvir muito também o Exile on Main St, porque li um livro que saiu, um jornalista que escreveu sobre o período no sul da França em que os caras fizeram o disco, é sensacional aquilo. Também ressuscitei recentemente o Kinks, "Preservation Act 2", maior barato. Eu gosto muito da idéia da ópera-rock, baixei esse disco outro dia e fiquei escutando um tempão.
Então agora sua meta é fazer óperas-rock?
Eu acho isso. (risos) O rock'n'roll ainda é insubstituível como música emotiva e aventuresca da vida. E acho que esse espírito de celebração, aventura - êxtase mesmo - que o rock'nroll tem e se tentou traduzir narrativamente nas óperas-rock, gerou um musical que não é cafona. A não ser que você bote na Broadway, aí lógico que fica cafona. (risos) Mas acho que funciona muito bem com cinema, porque o cinema tem esse poder de pegar umas músicas... Cinema e a música têm muito a ver, são duas coisas em movimento.
A trilha está ficando rock'n'roll?
Está ficando super rock'n'roll, mas é muita coisa junta, não é uma trilha que tem um espírito único. Vai do rock ao clássico, passa por eletrônica e coisas pouco convencionais. Tem Janis Joplin, talvez também Ramones. A música eletrônica é mais ritualística, mais tribal, na batida, na exaustão, repetição, transe. E o rock'n'roll sempre foi missa, tem a ver com soul, gospel. Aí, quando vem uma Janis Joplin, é um negócio que comove.
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